Na prisão de Greenville, Virginia, nos Estados Unidos, Douglas Christopher Thomas se prepara para sua última refeição: frango frito, batata frita e torta de maçã. Este simples jantar simboliza não apenas o fim de sua vida, mas também a história por trás de sua condenação à pena de morte.
“Eu vi os guardas comendo frango frito e passei a gostar do cheiro”, ele declarou, vestido com o macacão laranja regulamentar e sentado a 6 metros da câmara de execução da prisão.
Um crime brutal
Douglas Christopher Thomas, que em 1990 cometeu um crime trágico, foi um dos muitos jovens no corredor da morte dos Estados Unidos, cujos casos criminosos eventualmente geram debates sobre a justiça e o tratamento de menores no sistema penal.
Aos 17 anos, Douglas Christopher Thomas ainda era muito jovem para votar, mas já estava condenado por um crime que chocaria a sociedade: o assassinato dos pais de sua namorada Jessica Wiseman, de 14 anos.
Saiba mais detalhes sobre este caso de crime real clicando no link abaixo:
► Jessica Wiseman e Douglas Christopher Thomas: Assassinato, Manipulação e Tragédia Adolescente
O crime foi premeditado pelos dois jovens, que usaram uma espingarda de caça para matar os pais de Jessica. Jessica Wiseman foi condenada como menor de idade, passou anos em um centro de reabilitação e foi libertada aos 21 anos, enquanto Douglas Christopher Thomas foi julgado como adulto e condenado à pena de morte.
Thomas, enquanto aguardava a execução, refletiu sobre o crime que cometeu. Quando questionado sobre sua sentença, ele afirmou:
“Eu não posso culpar os Estados Unidos; eu não posso culpar o estado da Virginia,” disse Thomas. “De certo modo, eu me coloquei aqui. Foi uma decisão infantil. Eu era uma criança. Não sou uma vítima do meu ambiente, não sou uma vítima das drogas. Nos EUA, vivemos em uma democracia com liberdade de expressão, liberdade de escolha. Infelizmente, eu fiz uma escolha ruim.”
Pena de morte e os Direitos da Criança e do Adolescente
O julgamento de Douglas Christopher Thomas levanta questões sobre o sistema de justiça americano, especialmente em relação à pena de morte para jovens. Nos Estados Unidos, muitos menores são sentenciados à morte, e a decisão de tratar um adolescente como adulto no tribunal é controversa.
Devido à pouca idade de Christopher na época do crime, houve alguma comoção para que sua punição fosse reconsiderada pelo governador da Virginia na época, Jim Gilmore. A Divisão dos Direitos da Criança e do Adolescente dos EUA chegou a redigir uma carta para o governador, pedindo que a pena fosse revisada, declarando que “nenhuma sociedade civilizada pode aceitar a execução de uma pessoa que era adolescente na época em que cometeu seus crimes”. Leia aqui a carta na íntegra (em inglês).
“Acho que segunda-feira será um dia glorioso, aconteça o que acontecer,” disse Thomas, aos 26 anos. “Se a pena for comutada, eu recupero algum tipo de vida. Se não for, então sigo para outra vida. Acredito que a morte é apenas o começo.”
O movimento não foi favorável e Christopher foi executado em 2000. A execução ocorreu em um cenário de intenso debate sobre a justiça de sentenciar jovens à morte, especialmente após as declarações de Chris de que Jessica Wiseman teria participado ativamente do crime atirando em sua mãe e, ainda assim, escapou da pena de morte devido a sua pouca idade.
Christopher executado e Jessica livre
“Ela puxou o gatilho,” Thomas disse em seu último dia de vida. “Eu deveria ter dito isso durante meu julgamento. Eu disse a ela que assumiria total responsabilidade.” Duas mulheres que estiveram presas junto com Jessica Wiseman se apresentaram à justiça para confirmarem a declaração de Christopher, pois teriam ouvido Jessica confessar que matou a mãe.
A história de Douglas Christopher Thomas levanta questões sobre a moralidade de sentenciar um jovem à execução, especialmente quando os crimes foram cometidos em um momento de impulsividade. A partir de que idade um adolescente pode ou deve ser responsabilizado? Se Jessica teria participado do crime tanto quanto Christopher, com ambos tendo atirado nas vítimas, por que apenas ele mereceria a pena de morte?
“Não guardo nenhuma animosidade em relação a ela,” disse Thomas. “Aos 17 anos, eu era impulsivo. Eu era ingênuo, ainda estava procurando minha identidade, tentando ser quem todos queriam que eu fosse. Agora eu amadureci. Eu mudei.”
Ele passou seus anos na prisão lendo, assistindo televisão, se exercitando, ouvindo música, de ópera a rap, qualquer coisa que o fizesse esquecer onde estava. “Gosto de Frederick Forsyth. Li o livro de Andrew Morton sobre a Princesa Diana, mas sou cético em relação a Morton. Ela usou sua celebridade e fez a diferença.”
Na noite de sua execução, Douglas Christopher Thomas repetiu o ritual da última refeição, com frango frito, como um símbolo de uma vida que estava prestes a ser encerrada.
Fonte: The Guardian
Assista ao vídeo que eu fiz sobre o caso no meu canal no Youtube:
